
"Quem sou eu?" Essa talvez seja uma das perguntas que mais fazemos no decorrer da nossa vida, e provavelmente vamos continuar fazendo até a velhice. A identidade é uma estrutura definida (constitutiva), que esta diretamente relacionada com nossa história de vida desde a concepção.
A genética e o ambiente são os aspectos mais importantes dessa formação, apesar que acredito que o ambiente é o que mais vai ter influência nesse processo, até porque um indivíduo por exemplo, pode ter predisposição para o alcoolismo genéticamente e não ser um alcoolatra, tudo vai depender de suas escolhas e como ele lida com as situações.
No livro "A estória do Severino e a história da Severina", Ciampa discute a identidade de uma maneira criativa e inteligente, fazendo entender através da estória de Severino e história da Severina, que a identidade está em constante mutação, em uma metamorfose permanente.
Ciampa ressalta a idéia de que, para que esta se construa, é preciso que haja uma relação entre a pessoa consigo mesma, com o outro e com o mundo que a rodeia. O caminho que cada pessoa vai trilhar e como vai se dar essa transformação, é diferente para cada um, o que nos torna únicos e imprevisíveis.
Vou colocar aqui alguns trechos do livro que ilustra bem alguns conceitos que Ciampa e a Psicologia Social demonstram através de seus estudos:
"(...) cada indivíduo reconhece no outro um ser humano e é assim reconhecido por ele - sozinhos certamente não podemos ver reconhecida nossa humanidade, conseqüentemente não nos reconhecemos como humanos. Ter uma identidade humana é ser identificado e identificar-se como humano. (...) A identidade se concretiza na atividade social. (...) A realidade começa a ser interpretada de forma muito diferente. O discurso se modifica e novos significados começam a emergir. (...) Como animal simbólico, o bicho-humano sente carência de sentindo, de significado - e de pertencer a um grupo que dê suporte e encarne esse significado. (...) Dar sentido a seu futuro e, retrospectivamente, a seu passado, reinterpretá-lo. Com isso seu presente também pode adquirir sentido. (...)É o depoimento de quem tem consciência de ser uma metamorfose. (...)Identidade é metamorfose. E metamorfose é vida."
Não dá para colocar tudo que gostei do livro aqui (se não teria que escrever o livro todo! rs) mas com alguns trechos foi possível ter consciência da visão que traz o autor e a Psicologia Social.
Em relação a identidade também li um texto bem legal do Freud (pois é, achava que ele era meio "tan tan" da cabeça, mas tem muitas coisas legais que ele escreve também rs), o texto se intitula "Recordar, Repetir e Elaborar". Freud cita sobre a capacidade que temos de esquecer de situações, que embora importante para nosso amadurecimento, ficam no inconsciente impedindo que reflitamos e fazendo com que nossas ações, emoções e pensamentos sejam os mesmos, independente de vivenciar outra fase com outras pessoas.
Um exemplo disso, é quando um homem ou mulher, casa-se ou namora três vezes com pessoas diferentes e o relacionamento tem sempre as mesmas características e dificuldade que os outros antigos também possuiam. Esse exemplo pode servir não só para relacionamento, mas para trabalho, amizade, vida. Será que o problema está nos outros, ou é nós que deveríamos reavaliar nossa trajetória, procurando identificar o que realmente está acontecendo? Fazendo isso talvez possamos nos transformar e tranformar nossas vidas e nossa identidade, que embora pareça estática é na verdade fléxivel e mutável.
Para finalizar um trecho da obra de Freud:
"(...) O paciente tem que criar coragem para dirigir a atenção para os fenômenos de sua moléstia. Sua enfermidade em si não mais deve parecer-lhe desprezível, mas sim tornar-se um inimigo digno de sua têmpera, um fragmento de sua personalidade, que possui sólido fundamento para existir e da qual coisas de valor para sua vida futura têm de ser inferidas. Não como um acontecimento do passado, mas como uma força atual."
Referências:
CIAMPA, Antonio da Costa. A estória do Severino e a história da Severina - Um ensaio de Psicologia Social.
FREUD, Sigmund. Recordar, Repetir e Elaborar (Novas recomendações sobre a técnica da Psicanálise II) (1914). Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/7229887/RECORDAR-Repetir-e-Elaborar Acesso em: 2 mai 2011.